Uns dias no Brasil (Diário de viagem) é breve, divertido e provocador.
É o diário da breve passagem do argentino Adolfo Bioy Casares pelo Brasil em 1960. Uns dias no Rio, outros em São Paulo e outros ainda numa Brasília recém-fundada.
Bioy, dos grandes —maiores— escritores latino-americanos do século XX, registrou boa parte de sua vida em diários, centenas de cadernos que foram apenas parcialmente publicados: Memórias (1994), Descanso de caminante (2001) e o impressionante Borges (2006), com suas quase duas mil páginas, são os poucos registros que vieram a público.
O relato da viagem de 1960 —cujo objetivo era a desconfiadíssima participação num congresso do Pen Club — já havia sido editado (1991), mas em caráter restrito e fora do comércio. Agora surge num delicado livro que recebe posfácio de Michel Lafon, amigo pessoal de Bioy e especialista em sua obra.
Diários, sabemos, reúnem dois universos, duas dinâmicas. De um lado, revelam uma presença pública de seu redator; de outro, invadem —com cuidado— a intimidade.
Não é diferente nesse caso. Bioy descreve de forma bem sucinta sua participação no evento e carrega na avaliação dos personagens que o cercam —poucos bons escritores, muitos burocratas e carreiristas da escrita. Questiona a qualidade de quase tudo que come e faz um arguto diagnóstico da nova capital brasileira: quase tudo que ele viu em Brasília, em 1960, foi depois percebido e proclamado repetidas vezes por estudiosos e críticos da arquitetura e da concepção urbanística e política da cidade.
Para o leitor, o livro funciona como um olho mágico que permite perscrutar o cotidiano de um homem que amava as rotinas, mas jamais rejeitava viagens, mesmo quando a programação era irreversivelmente entediante. E reforça a percepção da inteligência afiada e cartesiana do autor de relatos de engenho, forma incomum na ficção latino-americana.
Sem contar que é mais um livro de Bioy —cuja leitura vicia, cujo manejo da língua é quase incomparável, cuja elegância no texto e na vida é categórica.
Adolfo Bioy Casares. Unos días en Brasil (Diario de viaje). Buenos Aires: La Compañia de los Libros, 2010.
Paisagens da Crítica já publicou resenhas de outros cinco livros de Adolfo Bioy Casares.
Clique no título do livro para lê-las:
– Diário da guerra do porco (2.12.2010);
– Seis problemas para Don Isidro Parodi (3.7.2008);
– Borges (9.4.2007);
– Histórias fantásticas (10.12.2006);
– A invenção de Morel (3.12.2005).
esse é um autor q me sinto em débito. beijos, pedrita
Pedrita,
tudo bem?
Salde logo o débito. rs Um autor essencial.
Beijos,
Júlio
Kelvin,
tudo bem?
Não sabia. É sobre essa viagem de 60?
Abraços,
Júlio
Aguinaldo,
tudo bem?
Obrigado. Lerei.
Calculo que até o início de dezembro saia novo Montalbano.
Abraços,
Júlio
Que bacana, Julio.
Sabe que Vila-Matas tem um texto sobre Bioy no Brasil? Está no “Desde la ciudad nerviosa”.
Abraço
Olá meu caro, como vais?
Divertido esse livrinho, não é mesmo? Fiz uns comentários sobre ele no http://guinamedici.blogspot.com.br/2012/01/unos-dias-en-el-brasil.html
abraços (e vamos a ver quando don Camilleri nos dará um outro Montalbano)
Aguinaldo
Realmente o livro é bacana. Traz fotos lindas de uma Brasília iniciante. Reli agora algumas passagens, inspirada pelo seu post. Bioy Casares é mesmo muito espirituoso.
Paula,
tudo bem?
Espirituoso, conciso, preciso.
Abraços,
Júlio